quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Não há vida...

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Não há vida que doa
Não há dor que corroa
Não há palavras que se agitem
Não há estilhaços que se adornem
Não há vida!
Vida que o vento assopre
E esvoace as folhas secas
Vida que ferva o desalento
E o desfaça em brasas de carvão.
Não és tu
Mas sim o coração
Que bebeu silêncio.
E não há vida!
Não há vida que murmure
Somente a chama morta
Alenta por te ter criado um dia
Mas não nasceu alegria
E quebraste-te ao som da floresta
Onde os riachos cantavam
Mas não te beijavam
Onde está a vida que resta?
Não sou eu
Não vivo em mim
Não há vida que sobreviva
Não há chama que acenda o rastilho de pólvora
Não tens em mim o que preciso
Não consigo decifrar a esfinge
Nem enganar a certeza que se cinge
Só sei que não há vida aqui
E refaço-te mais uma vez da aurora
Para te desfazer em lágrimas
Porque acordo e não estás aqui.



Não há vida que assuma a dor
Não há dor que viva a dor
O desejo abraça a folhagem seca
O sangue que coagula nas veias
A respiração presa
E não há vida que adormeça
Para não haver vida que acorde.
Não há corda que me puxe do abismo
Não há voz que tenha voz
Que me chame para o outro lado
De ti, de mim, desse “nós”…
E vou-me perdendo no escuro
Entre amarras de vez em vez
Onde a sombra engole o sol
E o medo estremece o chão
E porque não grita o coração?
De vez em vez abano sangue
Respiro sangue
Sangue, Sangue, Sangue
Chamo-te a mim… Mas não me oiço…
Hoje queria que fosse Amanhã
E que esse Amanhã fosse o Amanhã
De 1000 anos adiantados
E porque não há dia
O sol não nasce em ti
Porque não há vida aqui…
Não há vida! Não há vida! Não há vida!
Vida de ferida
Com sangue ao menos fosse
Para esgotar e cessar…
E porque a morte é vida.



E já perdi o senso
Mas também o dispenso
Só ainda estou por aqui
Porque já não moro em mim
E assim e assim
De vez em vez vou revivendo
Em palavras mudas
O que nunca será ouvido.
Porque mais uma vez
E de vez em vez
Não estás aqui…



E não há vida!
Não há vida e jamais haverá viver!
Porque nunca aqui estiveste…
Porque nunca chegaste a morrer.