terça-feira, junho 20, 2006

Brincando mais uma vez às escritoras...

- Estás a olhar para onde?
Rodrigo estendera-se a comprido no sofá e mantinha aquele olhar manso que apresentara quando vira Isabel. Contudo, se desvanecia quando olhava para mim. A ironia tomava novamente as rédeas, deixando-me perturbada.
- Não estou a olhar sequer – respondeu Rodrigo. – Tu é que estás. Para saberes que olhava para ti também tiveste de olhar.
Ai, a minha cólera reapareceu reanimando o meu orgulho. Desisti de colocar em prática a intenção de me cerrar no meu quarto e fugir ás suas provocações. Sentei-me no pequeno sofá ao lado e soltei as palavras desesperadas por sair:
- Ah, não me digas. Estás só a fixar os olhos nos meus. Eu estou cada vez mais far…
Rodrigo interrompeu-me sentando-se ligeiramente encurvado:
- É pá…. Eu não estava a olhar mesmo – as suas palavras saiam custosamente como se magoassem a garganta e as suas mãos passavam pelos cabelos como se segurassem todo o corpo. – Eu estava a pensar.
A pensar? Fiquei mais uma vez surpresa e, igualmente, confusa. A pensar? As palavras de Rodrigo pareciam sair de outra pessoa. E novamente surgiu-me: “É inacreditável a facilidade e quantidade de caras que uma pessoa pode ter. Se ao menos conseguisse ser tão teatral às vezes.” Mas… e o seu olhar? Algo nele me começava a convencer, por outro lado, que nem tudo poderia ser teatro.
Encostando suavemente as costas ao sofá abraçou-se a uma almofada e assentou nela o seu queixo. Sustive a fala pesada de orgulho e deixei-me levar por aquele olhar errante. Esperei que as suas palavras se soltassem lentamente, talvez aproveitando a boleia de um suspiro, como folhas arrastadas pelo vento no Outono. Oh, como eu adoro o Outono!
- Tu… – continuou. – Tu nunca olhaste para tudo sem nada ver? Como quando olhamos para a linha do horizonte – e encorajou-se a mostrar-me o seu olhar espelhado – Mas porquê que insistimos em querer ver para além das nossas possibilidades? Porquê?
Fiquei sem vocabulário adequado. Tinha ainda e somente palavras de orgulho preparadas para responder a ironias e nenhumas de reserva para o caso que se apresentava inesperadamente. Quem era este Rodrigo, afinal?
- Bem… não faço ideia – respondi um pouco atrapalhada e sem certeza de que se tratava de uma pergunta ou se respondia apenas a mim mesma.
E abanando a cabeça desafogou para si:
- Também… só eu!
Após um curto silêncio senti uma necessidade imensa de lhe perguntar:
- Quem és tu?
Rodrigo mostrou-se surpreendido e confuso:
- Quem sou eu? Não estou a perceber.
E acrescentei:
- Sim tu. Quem és tu neste momento?
Rodrigo, levantando pomposamente as sobrancelhas e levando as mãos aos ombros, respondeu:
- Então, não me conheces? Não me digas que sofres de amnésia?
Pronto. A ironia acordou do seu leito revitalizando a minha cólera. Levantei-me do sofá e disse:
- É pá… Eu já estava a achar muita profundidade para um ser como tu. Sinceramente não te conheço.
E preparada para ir para o quarto ainda perguntei:
- Afinal, que fazes tu aqui em casa? Tudo bem, és amigo da Catarina, mas ela não está em casa neste momento. Responde…que fazes aqui?
- Estou sentado no teu sofá – respondeu. – É sempre um prazer chatear-te. Tu esforças-te sempre tanto para me responder que fico admirado. Dá imenso gozo assim.
Bem, estas palavras aqueceram-me o estômago de uma forma que todo o meu corpo pareceu borbulhar numa panela de água a ferver. A minha voz subiu de tom juntamente com a minha respiração.
- Chega! Estou farta de ti! Vai-te embora!
E apontei para a porta gritando bem alto:
– Não te posso ver mais à minha frente! Vai! Ouviste?
Rodrigo levantou-se do sofá e aproximando-se de mim perguntou:
- Mas…tu tens mesmo a certeza de que queres que eu vá?
- Sim – respondi redondamente, fixando o meu olhar no seu. - É o que mais queria neste momento.
- Ok – disse colocando as mãos nos bolsos das calças de ganga – Eu fico já que insistes tanto – e abriu um sorriso de malícia.
Não! A minha cólera subiu-me novamente pelo corpo a cima. Ou já não teria há muito atingido o seu cume? Precisava de encontrar uma resposta à altura. Precisava…
- Ok. Queres ficar, fica. Eu vou para o meu quarto e tu ficas aqui. Mas nem ouses aproximar-te do corredor. Ouviste? Nem sabes o que te acontece.
Sim, pois, uma resposta à altura. E saí da sala, deixando-o sozinho.


“ O que significa, afinal, um olhar? Todos nós temos um olhar diferente, mas saberemos descrevê-lo na sua exactidão? O que diz o meu olhar quando me vejo ao espelho? Raramente consigo perceber. Vejo, algumas vezes, um olhar que não conheço, outras, o mesmo olhar que não desejo. Vejo o brilho dos olhos das outras pessoas, vejo o meu. Mas que diferença faz? Não consigo ambos decifrar.
Porquê que é sempre tudo tão complicado? Serão as pessoas complicadas ou será a vida que as complica? Serei eu a mais complicada? Talvez por isso não as compreenda. Talvez por isso não me compreenda. Eu queria que o olhar fosse uma porta aberta onde a alma se pudesse expressar como uma ave liberta de um cativeiro. Eu queria que no olhar não existisse escravidão. Eu queria que a lua fosse o brilho de todo o olhar para que iluminasse a escuridão dos gestos e palavras discrepantes de confusão e insegurança… de medo, de fraqueza humana. Eu queria que todo o olhar fosse uma porta escancarada de verdade onde a alma despida recusasse as cobertas. Onde nele pudesse ter o abrigo da certeza… o agasalho de esperança contra o frio da mentira e negação. Eu queria… eu queria pois. Se ao menos fosse possível.”

(Excerto da grandiosa (lol) obra de CristiGomes (essa grande futura personalidade histórica lol) que será terminada no ano de 2056 (portanto quando estiver na reforma) intitulada de Fala-me de ti, e que conta a história de uma pita revoltada e incompreendida que vive no meio de uma familia problemática (como ter um pai que passa a vida na night pó engate e uma irmã toda tia e super trombuda e autoritária), tem uma gata melgona, uma amiga gótica toda esgroveada e ainda desenvolve uma paixoneta pelo amigo da irmã mais velha, que é crescido de idade mas puto de maturidade, é portanto, uma grande fega que lhe tá sempre a xatear os cornos .... Na verdade ela anda sempre atrofiada porque não percebe a ponta dum corno desta corja de gente que tem dificuldade em se mostrar verdadeiramente, por isso anda sempre a questionar esta canalha para a conseguir definir e perceber... Olha porra senão fosse a avó porreirolas e os amigos passados dos escarretes nem sei do que seria desta criatura inocente... Txé, ganda resumo... Isto vai ser um best seller... Yeahh LOL)