segunda-feira, dezembro 12, 2005

"O aconchego"



Respirei pela noite de ontem uma luz
Uma estrela sorridente e perfumada pairando sobre mim
Fonte onde a escuridão somente adorna em redor
Acalmia fulgente onde bebi expectativa
E a clareza do que existe se consumiu em amor.
Beleza foi a que entrevi
Seda acariciante em pluma semblante
Retrato construído a folhas secas
Onde a reminiscência do ser amante
Se enterra por suas mãos e ressurge para a vida.
Suavidade foi a que os meus dedos tocaram
Atravessaram o negro manto em cor púrpura
Desmoralizando o palácio da noite
O nicho onde os abutres se deitam consolados.
Ontem foi o ontem em que vi essa luz brilhante
Uma luz de fogueira em comoção desfocada
Perdi-me nessa doce agitação
Mergulhada em quimeras de corpóreo sumptuoso
Onde o limite transcende o valado da morte.
Um coração foi o que ouvi cantar
Sonhava alto enquanto o piano tocava
Os anjos acordaram e vieram dançar em cercania
Oh que doçura teimosia!
E pairavam do céu asas fugazes
Percorrendo turbilhões em alvorada
Em que a recordação acena o adeus vitorioso.
Foi amor que me veio aconchegar o pranto
Expurgar o turvo da minha pele
Murmurar-me ao ouvido bravura…
A fé sedenta por entrar em mim
A tua alvura…
Sei que de ti tudo paira em mim.
Luz de vida em morte és lua
És alma pura
Em que todas as noites a minha
Humilde bebe da tua.
(to my mother)