sexta-feira, dezembro 09, 2005

Num embalo da infância...


"A avó ficou pensativa a lavar a loiça, e a sensação de remorso que me restara do almoço estava a corroer-me por dentro. Fui, então, um pouco para o quintal apanhar ar e lembrar-me dos velhos tempos passados naquele jardim ao perfume das flores. As nuvens do céu tendiam a esconder os raios de sol e a brisa anunciava o Outono precocemente. Cortada pelos ramos das árvores, a paisagem do lago que se entrevê, sempre me transmitiu muita paz. Em pequena, costumava sentar-me calmamente no baloiço que a avó criou para mim numa alfarrobeira, através de umas cordas e de um pedaço de madeira. O baloiço continua no mesmo lugar, aqui. Ela poderia ter-me comprado um verdadeiro naquela altura, mas aconselhou-me a preferir o da árvore: «Mais tarde ao recordar vais perceber porquê.» E agora compreendo. Não há magia igual a um baloiço numa árvore. O vento baloiçando as folhas juntamente com os meus cabelos, o corpo inclinado para trás observando a mais bela imagem de céu em que os raios de sol se infiltram por entre as frestas dos ramos e ao som do cantar dos pássaros e da frescura do vento beijando a face: ah, a eterna sensação de liberdade." (excerto de "E fez-se silêncio" by me"